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CRIMINALIDADE EM QUEDA: A Capital que os próprios gaúchos não enxergam

Nos últimos dias, um vídeo publicado por um influenciador digital viralizou nas redes sociais. Nele, o criador de conteúdo corre por cerca de 14km, saindo do Estádio Beira-Rio e indo até a Arena do Grêmio, em Porto Alegre. A proposta era mostrar a cidade sob um novo ângulo, mas o que chamou atenção mesmo foram os comentários feitos por moradores da própria capital.

Frases como:

“Fiquei tensa vendo onde tu tava se enfiando. Anjo da guarda trabalhou esse dia”,

“Na Vila Farrapos e esse celular não sumiu?”,

“Meu Deus, tu andou na Farrapos de noite?”,

“Eu ando aqui no centro do RJ e penso: ‘meu Deus, POA é muito pior, aqui é cheio de polícia’.”

Esses comentários, escritos por porto-alegrenses, revelam uma percepção alarmante e muitas vezes exagerada sobre a insegurança da cidade. A partir desse tipo de reação, começou-se até a dizer que Porto Alegre estaria mais perigosa que o Rio de Janeiro. Mas será que isso tem fundamento?

Indicadores de violência estão em queda em Porto Alegre

Apesar das percepções negativas e de áreas visivelmente degradadas, a cidade tem apresentado melhoras significativas nos principais indicadores de segurança:

📉 Homicídios: queda de 24% em agosto de 2024, comparado ao mesmo mês do ano anterior.

🚶‍♂️ Roubos a pedestres: redução de 58%.

🚗 Furtos e roubos de veículos: diminuição de 46%.

Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do RS, que aponta o fortalecimento do programa RS Seguro como fator central na reversão desses números. Além disso, operações de repressão a ferros-velhos irregulares, reforço no policiamento em áreas críticas e integração entre polícia civil, militar e guardas municipais têm surtido efeito.

O preconceito geográfico dentro da cidade

Um dos aspectos mais relevantes desse debate é o preconceito interno que muitos porto-alegrenses têm com determinadas regiões. Áreas como a Vila Farrapos, Voluntários da Pátria, Centro Histórico e o entorno da Arena do Grêmio sofrem com abandono urbano, concentração de moradores de rua e visibilidade do uso de drogas.

Esses fatores, somados à degradação do espaço público, alimentam a sensação de insegurança, muitas vezes mais relacionada à aparência e vulnerabilidade social do que a índices reais de violência armada ou letal.

Comparar Porto Alegre ao Rio de Janeiro em termos de periculosidade, classifico no mínimo como é um erro. O Rio enfrenta domínio de facções, milícias armadas e confrontos constantes entre forças de segurança e o crime organizado. Já Porto Alegre lida principalmente com crimes patrimoniais, furtos e problemas sociais crônicos.

Porto Alegre precisa, sim, de ações mais firmes do poder público, inclusive na revitalização de áreas urbanas e no acolhimento da população em situação de rua com políticas públicas eficazes. Mas transformá-la no “epicentro da violência”com base em comentários nas redes sociais ou fonte “vozes da minha cabeça”, feitos por seus próprios moradores, reflete mais uma crise de identidade urbana do que a realidade dos fatos.

Porto Alegre tem desafios, como qualquer grande capital brasileira. Mas tem também uma das polícias mais técnicas do país, programas em andamento que apresentam resultados e uma população que precisa resgatar a confiança em sua própria cidade.

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